TOCando os medos: conhecendo o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Ansiedade; rituais; pensamentos obsessivos; verificações; contagem e comportamentos supersticiosos. Esta é a rotina de pessoas que apresentam o transtorno obsessivo- compulsivo (TOC).
Estas características acarretam enormes prejuízos à qualidade de vida e ao funcionamento social do indivíduo. Embora acometa pessoas de todas as idades, os melhores prognósticos envolvem os tratamentos precoces, especialmente na infância.
Sim, crianças também apresentam o transtorno. A idade média de início é de 9,6 anos para os meninos e de 11 anos para as meninas. Pais bem informados podem detectar precocemente o transtorno, e este texto busca contribuir para isso.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo na infância
As crianças, em geral, não reconhecem a irracionalidade de seus comportamentos.
Na primeira experiência com a paternidade/ maternidade, é comum que os pais se vejam excessivamente preocupados com a saúde do bebê, mais especificamente quanto à possibilidade de doenças.
Um contexto favorecedor para isso é a própria fragilidade do organismo da criança, pois seu sistema de defesa ainda está sendo aperfeiçoado. Daí, então, a necessidade de uma rotina que envolva cuidados específicos para evitar contaminações e, consequentemente, doenças. Se a higienização adequada for algo muito valorizado na família, nada mais natural que os filhos também aprendam a valorizá-la bastante, também.
Uma criança pode adquirir o comportamento de lavar as mãos sistematicamente por alguns mecanismos de aprendizagem. Ela aprenderá por imitação caso alguma pessoa significativa emita esse comportamento e, ao imitá-la, ela receba reconhecimento social.
Caso os pais se preocupem excessivamente com contaminações, exigindo de seus filhos a higienização caprichada e frequente das mãos, emitindo regras do tipo “se não lavar as mãos após pegar em algo, vai aparecer um monte de germes que vão te deixar doente”, reconhecendo e valorizando quando a criança seguir a regra conforme especificaram, ela aprenderá a higienizar as mãos de forma frequente e caprichada.
Se, por exemplo, o infante for criticado ou castigado por não lavar as mãos (“Você não pode comer se não lavar essas mãos imundas antes”), ao higienizá-las ele estará se comportando mediante esquema de fuga-esquiva, uma vez que buscará agir assim para evitar as consequências aversivas descritas pelo adulto.
As obsessões e as compulsões
Como o próprio nome indica, o TOC define-se essencialmente pela presença de pensamentos persistentes, impulsos ou imagens que são intrusivos e sem sentido. Além de comportamentos repetitivos, premeditados e intencionais que são desempenhadas em resposta a uma obsessão.
Esta, por sua vez, destina-se a evitar desconforto ou algum evento ou situação temidos. Observa-se, portanto, que as obsessões são eventos cognitivos (comportamentos privados) e as compulsões são comportamentos públicos.
Diante dos pensamentos obsessivos, o sujeito se vê em uma situação em que precisa fazer algo para cessá-los. Portanto, ao se comportar compulsivamente, obtém alívio decorrente do contato com o estímulo.
As obsessões e as compulsões podem estar conectadas ou mesmo ocorrer independentemente uma da outra.
Outra característica é a de que os indivíduos adultos, pelo menos inicialmente, reconhecem a ausência de sentido das suas obsessões e compulsões. Esse mesmo motivo os impedem, muitas vezes, de expor para as outras pessoas, pois temem que os outros menosprezem o sofrimento ou mesmo chacoteiem os comportamentos. Cabe destacar que esta é uma característica de adultos com TOC.
O que desencadeia o TOC? O que pode piorar os sintomas do distúrbio?
Os cientistas tem conseguido elucidar vários fatores que contribuem para o surgimento do TOC. O que se sabe, até então, é que aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções cerebrais (como febre reumática).
Além das questões psicológicas, como aprendizagem de regras distorcidas e ambiente coercitivo estão dentre as variáveis que aumentam a propensão do desenvolvimento do TOC.
Ou seja, há o componente neurológico, mas também as variáveis psicológicas e culturais, que, somadas, resultam em hiperatividade de certas zonas cerebrais nos indivíduos acometidos pelo transtorno. Tais alterações, no entanto, podem ser revertidas com terapia medicamentosa e psicoterápica.
Adentrando no âmbito da aprendizagem, ilustremos exemplos de variáveis ambientais presentes na infância que podem desencadear o TOC, considerando a obsessão mais comum [3], que é a preocupação excessiva com limpeza, seguida de lavagens repetidas.
Outra possibilidade é quando são emitidas verbalizações que distorcem a realidade a respeito de sujeira, mediante a experiência individual do falante. Dessa forma, cria-se uma regra que é distorcida pelo fato de maximizar os riscos.
Cabe destacar que, para o paradigma da Análise do Comportamento, o fazer ou pensar são comportamentos produzidos pelos mesmos contextos. Ou seja, não existe hierarquia de relevância entre eles, tampouco uma linha causal em que um determina o outro.
Os medos e as preocupações são inerentes ao nosso cotidiano e o modo como aprendemos a conviver com eles é através de certos hábitos cuidadosos.
No entanto, quando tais comportamentos são frequentes ou excessivos, acontecerão prejuízos ao funcionamento social e desorganização da rotina pelo fato de eles consumirem tempo.
Assim, o que configura o TOC é não somente a presença de obsessões e compulsões, mas uma série de critérios diagnosticáveis apenas por especialistas. Além dos prejuízos que devem ser percebidos pelo próprio sujeito ou por seus familiares.
Tratamento para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo
Detectado o transtorno pelo psiquiatra ou psicólogo, o indivíduo pode ser tratado através de algumas modalidades terapêuticas. Os tratamentos mais efetivos no momento incluem o uso de medicamentos específicos, receitados pelo psiquiatra, além de psicoterapias.
Nesse âmbito, é reconhecida a eficácia das terapias comportamentais. Objetivos:
1. Confrontar as auto-regras distorcidas em torno das obsessões e compulsões, eliminando-as ou as substituindo;
2. Orientar e motivar a família a reorganizar as situações que até então vem mantendo os comportamentos indesejados;
3. Impedir o comportamento de fuga-esquiva supersticioso. No início deste procedimento há um aumento da ansiedade. Mas com a persistência do contato, tenderá a decair com a constatação de que a contaminação não ocorreu. Dessa forma, a pessoa pode se habituar com o estímulo aversivo e diminuir a frequência das compulsões;
4. Favorecer o contato com os estímulos que causam a contaminação para quebrar a regra que sustenta a obsessão.
Por envolver ciclos entre pensar e fazer, que se repetem até que haja alívio da ansiedade, caso haja cronicidade de tais padrões comportamentais é possível que haja dificuldades na reversão do quadro.
O paciente, acostumado com a zona de conforto, dificilmente se sentirá motivado a mudar os “padrões disfuncionais”. Pois o contato com os estímulos ansiogênicos é ameaçador.
Dessa forma, quanto antes ocorrer a busca pelos tratamentos, melhor é o prognóstico. Daí a necessidade de se estar bem informado e atento ao comportamento infanto-juvenil para que maiores agravos posteriores sejam evitados.
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil
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