Por de trás do Relacionamento Abusivo
O relacionamento abusivo
Relacionamento abusivo é a definição para qualquer tipo de relação na qual há abuso físico ou emocional.
Embora muitas pessoas acreditem, não é só um namoro/casamento que pode ser abusivo. Qualquer tipo de relacionamento onde haja um convívio é passível de ser abusivo. Seja no âmbito amoroso, familiar, profissional ou ciclo de amigos.
É comum ligar o termo abusivo diretamente à violência física. Contudo, estar em um relacionamento abusivo não quer dizer necessariamente ser agredido fisicamente.
A violência pode se manifestar de outras formas, como a violência psicológica, sexual e financeira. Geralmente de forma mais sutil do que a violência física, é mais complicado de serem percebidas.
Nesse tipo de relacionamento, é comum que um dos envolvidos assuma um papel de submissão. De modo que, satisfazer o outro em todos os sentidos torne-se a prioridade da relação. Enquanto que suas vontades serão colocadas em segundo plano. Dessa forma, predomina uma relação de poder e controle.
A dinâmica do relacionamento abusivo
Esse tipo de relacionamento pode demorar a ser identificado.
É comum encarar as atitudes abusivas como características normais da outra pessoa. Ou, até mesmo, encará-las como excesso de amor, carinho e zelo. Por exemplo, enxergar o ciúme excessivo como demonstração afetiva, acreditar que ser rude ou grosseiro é apenas o jeito do outro.
Humilhação, em público ou não, restrições exageradas, constante sentimento de culpa, sensação de sempre estar errado e cedendo mais que o outro, podem ser sinais de um relacionamento abusivo.
Um relacionamento abusivo não é necessariamente ruim o tempo todo. Pois, a dinâmica pode ser representada por um ciclo em que tudo está indo aparentemente bem até o ponto em que há um pico de agressividade.
A pessoa agredida costuma sentir-se extremamente mal. Por isso, o agressor se mostra arrependido, pede desculpas e promete que não repetirá essa atitude.
A partir disso, o ciclo do relacionamento abusivo se reinicia, seguido por uma boa fase que renova a esperança no relacionamento, dificultando ainda mais a percepção do abuso e a saída dessa dinâmica negativa.
Existe uma espécie de mecanismo baseada no medo. O outro fará com que você se sinta inferior e incapaz de encontrar substitutos.
De modo que, criará a insegurança de perder o relacionamento – e depois aliviá-la com episódios de amor e atenção.
A partir disso o medo toma a capacidade de pensar claramente. O abusador exerce um controle psicológico.
O processo de manipulação é pautado no fato de que logo após atitude abusiva, a pessoa volta a ser atenciosa e amável. E ao ser questionada sobre o assunto, inverterá os papéis ou inventará alguma desculpa para os lapsos.
Porém, é preciso estar atento, pois o abusador quase sempre é manipulador.
A ciência e o relacionamento abusivo
O relacionamento abusivo pode estar relacionado a um processo terapêutico conhecido como Reforçamento Intermitente.
Reforçamento intermitente é simplesmente a imprevisibilidade de recompensas para repetir o comportamento. É possível ser elevado gradualmente a níveis cada vez mais extremos, criando obediência, sendo obsessivo e até mesmo autodestrutivo.
Reforçamento intermitente desempenha um grande papel em ligações traumáticas. Estudiosos têm apontado relação com a teoria da “ligação traumática”.
Ligação traumática ocorre como o resultado de ciclos de abuso onde um reforço intermitente, recompensa e punição cria fortes laços emocionais que são resistentes à mudança.
Dessa forma, os episódios positivos, de recompensa, banem o medo liberam uma potente dose de dopamina- induzindo a euforia.
As ligações representam ocorrência normal e natural em uma relação interpessoal. Por isso, é normal que se fortaleçam ao longo do tempo. Contudo, ligações não saudáveis ou traumáticas ocorrem entre pessoas em um relacionamento abusivo.
Inicialmente, o abusador apresenta uma abordagem inconsistente. Por conseguinte, a vítima não perceberá facilmente que está inserida num contexto de relacionamento abusivo. Quanto mais tempo esse relacionamento continuar, mais difícil é para as pessoas deixarem os abusadores com quem se uniram
Reforçamento intermitente começa de forma subliminar e intensifica-se gradualmente. Por exemplo, uma ligação ou mensagem de texto que não aparece quando esperado podem ser pontos de partida.
Como findar o ciclo abusivo
O medo geralmente é o motivo pelo qual, pessoas continuam em relacionamentos que só as machucam. Não podemos esquecer que relacionamentos abusivos não são marcados somente por violência física, mas também por violência psicológica.
Sair de um relacionamento abusivo não é só uma questão de força de vontade. É preciso ter apoio para enxergar que isso não é amor. E, principalmente, é preciso ter coragem para admitir que está sendo abusado (a) por alguém que ama.
Ao perceber que está sofrendo um abuso ou que está sendo abusivo é fundamental buscar apoio especializado. Psicólogos, família e amigos.
É comum que a vítima tenha sido isolada e distanciada de familiares e amigos. Como outra forma de manipulação e manutenção do controle. Por isso, é importante retomar esses laços como forma de apoio. Enquanto que, o psicólogo é o profissional especializado que poderá auxiliar a vítima do relacionamento abusivo a se restabelecer.
Alguém preso em um relacionamento abusivo geralmente está muito abalado emocionalmente. Insegurança e incerteza diante do que virá, medo de ficar desamparado, medo de reações provenientes do outro, crença de que o outro poderá mudar as atitudes e “ser uma boa pessoa”, medo de ficar sozinho (a), crença de que não conseguirá se restabelecer e seguir em frente.
Sentir-se inseguro, doente, ansioso ou machucado por conta de relacionamentos não é normal. De tal forma que, isso não é culpa da vítima.
Fique atento aos sinais de manipulação. Uma vez que isso não ocorre em relacionamentos saudáveis.
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Brasília, DF.
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