Criança rainha da casa. Adivinha quem são os súditos?
O rei da casa
Talvez a maior dificuldade na educação de crianças e adolescentes seja o estabelecimento de limites.
Dessa forma, alguns pais vivenciam os dissabores diante das restrições. Muitas vezes acreditando que ao frustrar seus filhos estão fracassando enquanto pais. Ou mesmo acreditando que dizer “sim” pode evitar sofrimento diante dos limites do mundo.
Ambientes com excesso de facilidades e escassez de exigências comumente são contextos que favorecem o surgimento de comportamentos de difícil manejo.
Esse tipo de comportamento pode se agravar com o decorrer do tempo, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos comportamentais.
Decerto que cuidar é uma tarefa prazerosa. Porém, também se torna árdua quando os responsáveis precisam lidar com certos eventos, como gritos; choro; desobediência; oposição e a resistência infantil. Todos esses comportamentos são previstos quando se estabelece regras e limites.
Embora as crianças tenham vivenciado suas limitações físicas diante de um novo comportamento, as primeiras experiências de frustrações nas relações sociais são singulares. Sua importância se dá pelo fato de proporcionar o contato com algo inevitável: as regras sociais e os limites nas relações interpessoais. Aproximar-se desse contexto é fundamental e, quanto antes isso ocorrer, mais adaptativo será o comportamento social.
No entanto, lidar com a resistência infantil por vezes é tão aversivo que os pais agem de forma a evitar a birra e o choro. Assim, facilitam atividades diárias, são permissivos; diminuem ou extinguem as exigências; concedem o que a criança pede; cedem a birras, entre outros.
A sociedade em que as crianças estão inseridas valoriza e favorece o consumo e os bens acabam se tornando descartáveis, dispensando a necessidade de conservação. Ao passo disso, os cuidadores vivenciam a rotina de trabalho excessiva, que favorece o distanciamento físico e afetivo deles em relação aos filhos.
Os pais
Alguns pais realizam concessões que podem prejudicar a aprendizagem de regras culturais e morais importantes. Muitas vezes, movidos pela culpa diante da ausência no cotidiano dos filhos. Há quem acredite que dizer “não” é prejudicial por impor sofrimento à criança e que permitir é proporcionar a felicidade e a adequação social.
Porém, em relacionamentos paternos em que prevalecem concessões excessivas, os papeis são invertidos. Quem dita a ordem é a criança, e o pai é quem obedece.
Assim, a criança vive um reinado em que tudo é possível, bastando pedir ou mesmo impor sua vontade. Os pais se transformam em súditos também para evitarem a própria sensação de fracasso em não poderem realizar o desejo do filho.
Eis então que paira um questionamento: se não é possível uma vida sem frustrações, como prepará-los para o mundo se os pais buscam proporcioná-los apenas êxitos?
Ao contrário do que se pensa, frustração não é algo de adulto ou de perdedor. Caso os pais não estabeleçam limites quando necessário, a tolerância à frustração infantil não será desenvolvida adequadamente. De modo que a criança terá dificuldades em aceitar as restrições que a própria vida impõe, apresentando respostas emocionais e comportamentos desadaptativos.
Além disso, é possível que o infante sofra rejeições sociais. Pois nas brincadeiras em grupo não apresentará “espírito esportivo”: será o responsável pelas regras do jogo, competindo e desejando apenas vitórias. Quando estas não forem possíveis, a criança poderá agir de forma agressiva ou mesmo apresentando trapaças para evitar fracassos.
Estabelecer limites cabe aos pais ou responsáveis
Ao contrário do que podem pensar os pais, estabelecer limites não é ser cruel ou proporcionar infelicidade. Na verdade, as crianças ficam até mais felizes e seguros ao saberem do que se espera deles e de quais caminhos precisam trilhar para obterem êxitos.
Os extremos são igualmente nocivos ao desenvolvimento infanto-juvenil. A ausência de regras e limites favorece o surgimento de padrões comportamentais desafiadores e opositores, falhas no desenvolvimento pessoal e social. Além de desenvolver comportamentos antissociais (delinquência juvenil, psicopatias e sociopatias) e aditivos (uso de drogas).
Aliás, padrões autoritários já são responsáveis por outros prejuízos, como níveis significativos de ansiedade, humor deprimido, baixa autoestima e estresse. O ideal seria o estabelecimento de regras e limites juntamente com o afeto, de modo equilibrado.
O próximo passo é apresentar, por meio de uma conversa, descrevendo as consequências caso haja descumprimento das regras. É válido não só descrever os limites, mas lembrá-los periodicamente para que possam ser mantidos. O uso de uma linguagem adequada, clara e concisa se faz necessário para assegurar compreensão e aumentar a probabilidade de obediência.
Após o “acordo”, é necessário que os pais ajam com consistência e firmeza. Os filhos conseguem identificar quando uma regra pode ser quebrada, testam os limites dos pais diante de suas resistências.
Cabe ressaltar que as regras também podem ser modificadas, conforme a avaliação da família. Se uma regra não está sendo cumprida, algo não ficou bem estabelecido. Ou ela é inadequada àquele momento ou a criança não entendeu, necessitando de revisão.
As consequências diante do respeito aos limites estabelecidos e do descumprimento também são dignas de discussão. Ao mesmo tempo em que as consequências precisam ser adequadamente apresentadas diante de regras burladas, o cumprimento das mesmas devem ser seguidas de consequências positivas, seja com elogios, atenção ou uma recompensa.
Além disso, cabe ressaltar que os pais também devem fornecer o modelo em seguir regras. É incoerente cobrar obediência a elas se os pais burlam normas familiares ou sociais. Desejando que apenas o comportamento verbal seja seguido pelos filhos ao invés daquele que emite.
Inpa
Percebe-se uma série de padrões comportamentais dos pais que interferem no estabelecimento de limites, como a intolerância à frustração; o déficit no repertório de habilidades sociais; crenças desadaptativas que associam amor a superproteção e liberdade à permissividade.
Cabe a cada pai avaliar seu repertório e, diante das dificuldades, procurar ajuda profissional. Muito provavelmente esses padrões aparecem não só no relacionamento com os filhos, mas em outros âmbitos. O que torna a psicoterapia válida pois abrangerá não só um âmbito da vida, mas a vários. Como o relacionamento conjugal e profissional, por exemplo.
O interessante é que não haja castelos, reis e súditos. O que a criança precisa é de um lar como ele é: com segurança, mas também vulnerabilidades. Que haja proteção, mas não em demasia. Ela precisa de pais, não de reis invulneráveis e absolutos (e tampouco ditadores). A liberdade é desejável, mas as restrições são necessárias.
A criança necessita, sobretudo, que os pais mostrem as regras do jogo chamado “vida”: viver é lutar, gozar de ganhos, mas também é lidar e aceitar as perdas e limitações.
O Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Brasília oferece terapia infantil para o acompanhamento das crianças. Por isso, entre em contato e marque uma consulta. Fone: (61) 3242-1153
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil
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