Interpretação dos Sonhos
Adriana de Oliveira
Publicado em: 11/11/2001
Os sonhos se constituem como objeto de estudo da psicologia, tendo sido tratados de formas diferentes por várias teorias, como a psicanálise e o behaviorismo. Os sonhos, na Análise do Comportamento(ciência que tem como filosofia o behaviorismo, desenvolvido por Skinner) são analisados como um processo comportamental, sendo assim, este não é considerado um elemento simbólico ou um disfarce, mas sim, um comportamento que deverá ser analisado e entendido.
Para Skinner, comportamento é a interação entre os indivíduos e o ambiente, podendo-se destacar dois tipos de comportamentos: os comportamentos públicos, como falar, andar, e os comportamentos encobertos, como pensar e sentir. Entende-se por comportamento público aqueles que todos teriam acesso direto através da observação, já os comportamentos encobertos seriam aqueles sob a pele, os quais só poderiam ser acessados através de um relato do indivíduo, sendo assim, a observação se daria de forma indireta. Estes dois tipos de comportamentos(públicos e encobertos), são igualmente estabelecidos e modificados pela interação do indivíduo com seu ambiente.
Sonhar é comportar-se e este é fruto de análise como todos os demais comportamentos apresentados pelo cliente numa relação terapêutica. Skinner afirma que sonhar é “ ver na ausência da coisa vista. A estimulação atual exerce então um controle mínimo e a história da pessoa e os estados resultantes de privação e emoção têm a sua oportunidade”. Deste modo, os sonhos estão mais relacionados com a história passada e os estados de privação e emoções do que somente com os acontecimentos recentes da vida do cliente. Contudo, não se nega que os eventos atuais da vida do cliente também exercem um certo grau de controle, mas não na mesma proporção dos demais eventos citados.
O sonho tem muita importância dentro do processo terapêutico, pois por meio dele, o terapeuta poderá ter acesso a fatos da história passada ou atual do cliente que normalmente não seriam explicitados ou demorariam mais para vir à tona. Vale ressaltar ainda, que o terapeuta, sempre que necessário, deverá discutir com o cliente se aquilo que compreendeu ou concluiu corresponde ao que o cliente pretendeu expressar. Destaca-se ainda que o terapeuta conduzirá a interpretação dos sonhos fazendo perguntas como “o que você acha que seu sonho tem a ver com o que está acontecendo na sua vida?” ou “ Porque você sonhou isto esta semana?”.
Compreender os sonhos é entender mais sobre as relações da vida dos clientes e consequentemente sobre o próprio cliente. Sonhar, assim como falar, chorar, sofrer, é característico do ser humano e, em nenhum momento, isto deve ser negligenciado. Todos estes elementos serão analisados no processo terapêutico, como já destacado anteriormente, proporcionando assim um entendimento amplo e complexo do homem.
Quando se fala na interpretação dos sonhos, não se deve pensar que esta irá se constituir como uma tarefa fácil de ser realizada, não existe nenhum manual ou livro que interprete os sonhos. Esta interpretação deverá ser construída, primeiramente, pelo cliente, com o auxílio de seu terapeuta, buscando os motivos e os elementos dos sonhos em sua vida e quais seriam ou foram os acontecimentos que estariam influenciando no sonhar.
A compreensão da Análise do Comportamento sobre os sonhos, se diferenciam de outras teorias da psicologia em diversos aspectos. Para a teoria Freudiana, por exemplo, os sonhos são frutos de conteúdos inconscientes relacionados principalmente a infância. Já para Skinner, como explicitado em diversos momentos, sonhar é comportar-se, e diferentemente da psicanálise, os sonhos serão repletos dos mais diversos materiais pois estão diretamente relacionados com as condições situacionais que os indivíduos estarão vivenciando.
Não se tem aqui a pretensão de criticar as várias explicações dadas aos sonhos. O grande interesse, neste momento, é dismistificar o sonhar, como algo profundo e irracional ou até mesmo sobrenatural e mostrar que existe um jeito mais simples de se compreender o sonho e o homem como um todo.
Tentar simplificar o processo de compreensão do homem não implica de maneira alguma em negar sua complexidade e este é o caminho buscado pelas ciências em geral. Defende-se somente que através da junção e interação das varias relações vividas pelos homens chegar-se-á a complexidade humana. Contudo, antes destes processos se constituírem como complexos eles serão simples, Skinner afirma que “ começamos com o simples e avançamos para o complexo, passo a passo.”(1998). Sendo assim, para chegar até a complexidade humana o caminho a ser percorrido deverá ser o mais simples possível.
Pode-se e deve-se acreditar naquilo que mais nos parece verdade, como já dito anteriormente. Não se pretende aqui apresentar a verdade, mas sim uma nova forma de se compreender os sonhos e o homem.
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil.
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