Pensando bem, eu não quero mais ouvir a sua voz
Não, eu não quero mais ouvir a sua voz, seja na ligação telefônica, seja numa lembrança “histriônica”. E não sinto raiva porque esse sentimento é vil, pouco adequado à pessoa lapidada que sou. Por isso e por mais uma arroba de motivos, eu não tenho raiva de você. Não, eu realmente não tenho!
Mas, pensando bem, talvez eu tenha sim um átomo de raiva, já que você me fez sofrer. Você e essa boca gostosa, você e esse sorriso desconcertante. Você e essa pele com o cheiro que eu desejei transformar em essência para inalar sempre.
Pensando bem, tenho muita raiva de você, já que você me fez sofrer. Tenho muita raiva e, talvez um pouco de culpa por não ter conseguido me controlar. Você é dessas pessoas inconstantes, passionais, que se apaixonam hoje sem se importar com o dia do amanhã que certamente virá, ou viria, se você fosse apresentada ao senhor equilíbrio.
O meu erro? Penso que foi amar você mais do que amar a mim mesmo. Sim, abandonei projetos, trabalho, meus prazeres e interesses pessoais… Desejei cada pedacinho desse seu corpo de linda fêmea da espécie humana.
Acreditei em você! Não, pensando bem, não acreditei. Porque acreditei mesmo foi no sonho de construir felicidade como estado alcançado e inamovível ao seu lado. Aliás, foi ouro de tolo, trevo de quatro folhas ou qualquer outra bobagem na qual, estupidamente, investimos energia, tempo de vida que não volta e boa dose da confiança que ainda tenho no amor, o mais nobre dos sentimentos.
Devia ter me observado mais; entendido mais as minhas amplas e variadas necessidades; definido claramente o meu espaço individual. Não que eu não acredite na possibilidade do amor e de amar, eu até acredito, mas acho que é possível o amor conviver com os vários seres que sou.
Pensando bem, eu não quero mais ouvir a sua voz.
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil.
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